Menina !

Já havia decorrido um tempo bastante razoável desde que ela era chamada de menina,ou até,como alguns mais debochados diziam,uma pré mulher.Mas agora,ali quieta e pensativa rememorava,sem saber exatamente porque,todos os fatos que haviam decorrido em sua vida,e eram tantos,que foi exercendo uma pré seleção,priorizando , sem saber bem porque, não apenas os mais importantes,mas aqueles que lhe proporcionaram emoções mais intensas.A Menina,vamos chamá-la assim,agora com sete meses de gravidez e vivendo aquela serenidade de quem espera apenas a hora certa,e boa,de ser mãe.Gostou de ouvir ,sem que ninguém lhe dissesse,algo sussurrado em seu ouvido alguns anos antes,que não havia mulher mais bonita que a mulher grávida,pois ela deixava transparecer todo o encanto de gerar uma vida e todo o mistério e satisfação que isso determina.Então Menina lembrou com clareza de seu tempo de menina,quando na janela branca da casinha de seus pais via um monte de gente passar,gente que pouco a pouco foram sabendo que iriam encontrá-la ali e que gostavam dela e que diziam bom dia,boa noite,como vai.Ali ,naquela janela branca da casinha branca,agora imaginária,Menina se apaixonou pela vez primeira e pela primeira vez amou alguém.Ela lembra até hoje por quem,só não sabe de seu destino,sua vida.Pouco importa,foi seu debute emocional,quando sonhou em ser abraçada e beijada e viver junto com alguém.Mas foi só sonho,esse pelo menos foi assim.A vida rolou,o tempo passou,ou como ela gostava de dizer,ela passou, e agora estava ali,grávida de sete meses,de uma menina que haveria de ser mais linda e maravilhosa do que ela por vezes se achava,grávida de alguém que a adorava e que cuidava dela,mas que não era seu amor maior,sua paixão eterna .Esse tinha ido embora para sempre,que nem sua cadela ,também branca,Volúpia,que um dia enlouqueceu e atravessou a rua sem rumo e foi atropelada e sofreu por um tempo  e foi cuidada por ela,mas um dia morreu.E Menina chorou lágrimas amargas e reclamou da vida,reclamou de Deus,reclamou de si mesma.Mais tarde quando tudo tinha se ajeitado outra vez e havia encontrado seu amor maior e parecia que seria finalmente feliz um acidente fortuito fez com que vida escapasse por entre seus dedos ,novamente, e o levou.E de novo ela chorou,reclamou,quase enlouqueceu,mas o tempo ,pai de tudo,acalmou sua vida de novo e agora estava ali,apenas aguardando o tempo certo de pegar nos braços o seu outro pedaço.Menina as vezes tinha vontade de voltar a janela branca da casinha branca,mas lá não existia mais ninguém de  seu e sequer a janela estava lá,a casinha agora era um belo condomínio,com muitos donos daquilo que era só dela.Menina chorou e depois sorriu,afinal a vida continuava e outra vida estava a caminho.